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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Estudo do benzeno



EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO BENZENO EM TRABALHADORES DO COMPLEXO PETROQUÍMICO DE CAMAÇARI, BAHIA



Resultado de imagem para imagens do composto de benzeno
Fórmula estrutural do Benzeno

RESUMO

O presente trabalho constitui-se em um estudo de prevalência, realizado a partir de dados hematimétricos referentes a 7.356 trabalhadores de nove empresas do Complexo Petroquímico de Camaçari, Bahia. Do total de trabalhadores avaliados, 216 deles (2,9%) apresentaram valores leucocitários abaixo de 4.000 e/ou número de neutrófilos abaixo de 2.000. Para estes últimos, caracterizou-se evidente exposição ocupacional ao benzeno, sendo que todos foram afastados da exposição e encaminhados para investigação hematológica mais aprofundada. O presente estudo permitiu evidenciar o valor do método de vigilância epidemiológica na inspeção trabalhista dos ambientes de trabalho.
INTRODUÇÃO

A intoxicação pelo benzeno ou benzenismo é o conjunto de manifestações clínicas e/ou sinais laboratoriais compatíveis com os efeitos da exposição ao benzeno em trabalhadores de empresas que o produzem, transformem, distribuem, manuseiem ou consumam. (1)
O benzeno é um hidrocarboneto cíclico aromático, líquido, incolor, volátil, com odor agradável e altamente inflamável. É produzido, principalmente, pela destilação do petróleo ou na siderurgia (como produto secundário do coque). É utilizado nas indústrias químicas como matéria-prima para fabricação de plásticos e outros compostos orgânicos e, nas indústrias da borracha e de tintas e vernizes como solvente. No setor sucroalcooleiro, o benzeno é utilizado para a produção do álcool anidro. Pode ser encontrado, também, como constituinte de vários derivados de petróleo (aditivo da gasolina em alguns países).
A intoxicação humana pelo benzeno pode ocorrer por três vias de absorção: respiratória (aspiração por vapores), cutânea e digestiva. A via respiratória é a principal, do ponto de vista toxicológico, sendo retido 46% do benzeno inalado. Uma vez absorvido, quase imediatamente é eliminado em 50% pelos pulmões. O benzeno que permanece no corpo, distribui-se por vários tecidos. Na intoxicação aguda, a maior parte é retida no sistema nervoso central, enquanto que na intoxicação crônica permanece na medula óssea (40%), no fígado (43%) e nos tecidos gordurosos (10%). Após sua absorção, parte do benzeno distribuído pelo organismo é metabolizado pelos microssomas do fígado e cerca de 30% é transformado em fenol e em derivados como pirocatecol, hidroquinona e hidroxiquinona, os quais são eliminados pela urina nas primeiras horas até 24 horas após cessada a exposição.(2, 3, 4)
As intoxicações agudas, em geral acidentais e graves, caracterizam-se sobretudo pelos seus efeitos narcóticos (tontura, desmaios, narcose e coma). A dose letal oral varia de 50 a 500 mg/kg, sendo que a inalação de 20.000 ppm é fatal entre 5 e 10 minutos. (5, 6)
A exposição prolongada ao benzeno provoca diversos efeitos no organismo humano, destacando-se entre eles a mielotoxidade, a genotoxidade e a sua ação carcinogênica. São conhecidos, ainda, efeitos sobre diversos órgãos como sistema nervoso central, e os sistemas endócrino e imunológico. No entanto, não existem sinais ou sintomas típicos da intoxicação crônica pelo benzeno. As manifestações neurológicas são leves e bem toleradas. Pode ocorrer, também, toxicidade hepática e renal, mas os efeitos sobre o sistema sangüíneo são os mais importantes. (7, 8, 9, 10, 11) O efeito mais grave do benzeno sobre a medula óssea é a sua depressão generalizada que se manifesta como redução de eritrócitos, granulócitos, trombócitos, linfócitos e monócitos. A neutropenia e a leucopenia tem sido os sinais de efeito observados com mais freqüência entre os trabalhadores expostos ao benzeno. Também são sinais hematológicos de efeito as alterações qualitativas nas células sanguíneas tais como macrocitose, pontilhado basófilo, diminuição da segmentação dos neutrófilos e presença de microplaquetas. O aumento do Volume Corpuscular Médio (VCM) e a linfocitopenia tem sido consideradas
alterações precoces do benzenismo. (12,13).
É importante assinalar, ainda, que há relação causal comprovada entre a exposição ao benzeno e a ocorrência de leucemia, especialmente a leucemia mielóide aguda e suas variações, entre elas a eritroleucemia e a leucemia mielomonocítica. (14, 15, 16, 17, 18)

O COMPLEXO PETROQUÍMICO DE CAMAÇARI - COPEC
Atualmente respondendo por mais da metade da produção brasileira de petroquímicos e considerado em seu gênero o maior complexo da América Latina, o COPEC constitui um conglomerado de empresas para produção e processamento de químicos diversos, utilizando basicamente a nafta produzida pela Refinaria Landulpho Alves (Petrobrás). (19)
A maioria das empresas entrou em operação a partir de 1978, sendo que os primeiros casos de benzenismo em trabalhadores do COPEC foram observados em 1985, quando a FUNDACENTRO/Bahia realizou um estudo na central de tratamento de efluentes, que resultou no afastamento de 12 trabalhadores com suspeita de mielopatia ocupacional. Mais tarde, em 1990, ocorreram dois óbitos comprovadamente relacionados à exposição ocupacional ao benzeno em uma mesma empresa processadora de benzeno. Esses dois casos, um caso de aplasia medular em um médico do trabalho e um caso de leucemia mielóide crônica envolvendo um operador de processo, foram o evento sanitário desencadeador do processo de investigação epidemiológica desenvolvido por Médicos do Trabalho da Delegacia Regional do Trabalho no Estado da Bahia. (20)

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo estudar a ocorrência de benzenismo entre trabalhadores do Complexo Petroquímico de Camaçari, Bahia. Além de identificar casos precoces de benzenismo, o estudo buscou desenvolver e aprimorar condutas e instrumentos de fiscalização trabalhista na área de segurança e saúde no trabalho, compatíveis com a complexidade da indústria petroquímica.

MATERIAL E MÉTODO
O presente trabalho constituiu-se em um estudo de prevalência, realizado durante o ano de 1991 a partir da análise de dados hematimétricos referentes a 7.356 trabalhadores de nove diferentes empresas do COPEC. Entre as empresas estudadas, uma produzia benzeno, cinco utilizavam-no como matéria-prima, uma utilizava-o como solvente, uma era a central de manutenção industrial, e uma era a central de tratamento de efluentes.
O hemograma completo com contagem de plaquetas foi utilizado como indicador biológico de efeito da exposição ao benzeno, na medida em que revela os valores hematimétricos do indivíduo naquele momento, que podem indicar agressão da medula óssea. Neste sentido, numa primeira triagem, foram classificados como “suspeitos” todos os trabalhadores que apresentaram valores leucocitários abaixo de 5.000 e/ou neutrófilos abaixo de 2.500. Posteriormente, para cada um destes trabalhadores foram realizados três novos hemogramas, com intervalo de 15 dias. Numa segunda triagem, após análise da história ocupacional e da série histórica dos exames hematológicos, foram classificados como “caso epidemiológico” todos os trabalhadores que apresentaram valores leucocitários abaixo de 4.000 e/ou valor de neutrófilos abaixo de 2.000, e/ou valores decrescentes ao longo do tempo observados nas séries históricas de hemogramas.
Após a definição desses critérios e a adoção de um protocolo de investigação (21), os exames hematológicos foram revisados e classificados por quatro Médicos do Trabalho, os próprios autores do trabalho. As séries históricas de exames hematológicos e dados de prontuários médicos foram processados na DATAPREV/Bahia.

RESULTADOS E DISCUSSÃ0
Com relação às características da população estudada, pode-se dizer que constituiu-se em um grupo de trabalhadores jovens - com menos de 40 anos de idade e do sexo masculino. Quanto à lotação na empresa, 38,7% dos trabalhadores estavam no setor de produção, 31,3% na manutenção e 30% na administração.
Em seu conjunto, das nove empresas estudadas, foram analisados hemogramas de 7.356 trabalhadores, sendo que 850 deles (12%) apresentaram valores leucocitários abaixo de 5.000 e/ou neutrófilos abaixo de 2.500 e, segundo o protocolo adotado foram classificados como “suspeitos”. Esses 850 trabalhadores realizaram mais uma série de três hemogramas consecutivos, dos quais 216 mantiveram-se com valores leucocitários abaixo de 4.000 e/ou número de neutrófilos menor que 2.000, e/ou série histórica com valores decrescentes, e foram classificados como “casos epidemiológicos”. A distribuição destes 216 trabalhadores classificados como “casos epidemiológicos” revela que 92,6% são do sexo masculino, e a média de idade encontrada foi de 36 anos. Quanto à lotação na empresa, 49,5% dos casos trabalhavam na produção, 34,7% na manutenção e 15,8% na administração. Cerca de 2/3 do contigente dos trabalhadores classificados como caso exerciam uma das seguintes funções: operador industrial, encanador/caldeireiro, analista e auxiliar de laboratório, eletricista, auxiliar de serviços gerais, técnico de manutenção e mecânico industrial. A existência de 34 trabalhadores nesse grupo entre os que desempenhavam apenas funções administrativas, pode ser indicativo de uma contaminação ambiental mais ampla, o que necessita ser melhor investigado através de avaliações ambientais metodológicamente confiáveis. O tempo médio no emprego atual encontrado foi de 9(nove) anos, reforçando a correlação entre tempo de exposição e o surgimento de alterações hematológicas.
Para todos esses 216 trabalhadores classificados como caso caracterizou-se evidente exposição ocupacional ao benzeno, sendo que todos foram afastados da exposição e encaminhados ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), através da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT. Esses trabalhadores foram submetidos a criteriosa investigação hematológica e tiveram reconhecido, pela perícia médica do INSS, o nexo causal para benzenismo. Além disso, o acompanhamento hematológico prospectivo vem sendo realizado em todos os trabalhadores com nexo causal estabelecido.
Os resultados apresentados no presente estudo são corroborados por um outro estudo realizado em 1992 que mostrou que o número de casos de doenças hematológicas graves encontradas entre os trabalhadores do Complexo Petroquímico de Camaçari expostos ao benzeno, indica uma ocorrência destas doenças acima da esperada, principalmente da anemia aplástica, seguida das leucemias. (22)

CONCLUSÕES
Os efeitos mielotóxicos e carcinogênicos do benzeno já estão bem estabelecidos por inúmeros estudos epidemiológicos, a maioria deles relacionados com exposição industrial.
No Brasil, em levantamento referente o período de 1983 a 1993, realizado pelo Ministério do Trabalho, foram identificados 3.331 casos de trabalhadores afastados por benzenismo.
A maior parte desses casos tem origem nas indústrias siderúrgicas e petroquímicas da Região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo), do Rio Grande do Sul e da Bahia.
A análise dos dados coletados neste estudo revela que cerca de 12% dos 7.356 trabalhadores avaliados apresentou valores leucocitários abaixo de 5.000 e/ou neutrófilos abaixo de 2.500. Dentre estes últimos, 216 (2,9% do total avaliado) apresentaram valor leucocitário abaixo de 4.000 e/ou neutrófilos abaixo de 2.000 e/ou valores decrescentes ao longo do tempo observados nas séries históricas de hemogramas. Para estes, caracterizou-se evidente exposição ocupacional ao benzeno, sendo que todos os 216 trabalhadores foram afastados da exposição, com emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), seguida de encaminhamento para investigação hematológica mais aprofundada.
Os resultados deste trabalho permitem evidenciar o valor do método de vigilância epidemiológica na fiscalização trabalhista da área de segurança e saúde no trabalho. São evidentes as vantagens desta metodologia quando comparada aos procedimentos burocratizados atualmente adotados pela inspeção trabalhista dos ambientes de trabalho. Concretamente, a partir de dois casos fatais de benzenismo foi possível promover a busca ativa de casos novos em outros trabalhadores expostos. A ação fiscalizadora, consubstanciada em um método inerente à prática preventivista, possibilitou o afastamento de um significativo número de trabalhadores de ambientes contaminados com benzeno, trabalhadores estes portadores de lesões precoces e ainda em uma fase em que há alta probabilidade de reversão da evolução fatal da enfermidade.

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